9 de jan. de 2010

Donde Miras: precisa-se de intérpretes

Bate-papo sobre o curta “Brazil: precisa-se de um interprete” - Comentários por Tânia Villarroel


Segundo o autor André, o filme foi dividido em partes valorizando o ponto de vista de estrangeiros sobre o brasileiro – por isso Brasil com “z”.
O objetivo era mostrar de alguma forma que identidade, opinião e Cultura são conceitos que dependem de referência.

Donde miras é Brasil ou Brazil?
Quanto mais pontos de vista eu conheço, mas posso respeitar a diversidade e formar uma própria opinião.

Eu sou o que eu acho que sou mais o que pensam de mim. A qualidade de intervenção com o mundo depende do quanto eu comunico do que sou.

A opinião do estrangeiro é reflexo de quanto somos ouvidos ou não e quanto conseguimos firmar nossa identidade.

O que me parece interessante no filme é que ressalta a importância da diferença para identificar nossas características.

Dizem que voltamos mais brasileiros quando temos alguma experiência no exterior. E tenho certeza que isso não é só expressado pelas saudades que temos de comer feijoada ou de ganhar um pronto abraço de quem mal conhecemos. É resultado de todo um gestual, de toda uma maneira de lidar socialmente e de expressar no comportamento de cada um de nós.

Feliz escolha! Quando chamamos alguém que não faz parte do processo para opinar – os estrangeiros, pedimos para que se fale sobre o que salta aos olhos e nós – parte do processo – não conseguimos enxergar.

Numa das entrevistas, é revelado que a bandeira do Brasil reflete um pessimismo. Quando na faixa da bandeira do Brasil as palavras são colocadas em imagem decrescente, expressa-se uma opinião descendente sobre o progresso. E mais ainda, se antes era “Amor, ordem e progresso”, eu me pergunto: o que aconteceu com o amor?

Me faz pensar que a idiossincrasia do Brasil passa pela construção da afetividade.
Como falar de raízes, quando parte da sua construção passa pelo papel do mulato? O que isso implica de fato?
Se o Brasil foi um país escravocrata e o senhor, por vezes envolveu-se de alguma forma com a mulher do escravo que era negra, tendo um filho mulato, como fica a construção social do negro que era seu marido?
E como essa mulher negra poderia futuramente saciar as inquietações desse filho mulato sobre seu passado familiar, sua raízes e seu posicionamento perante o mundo?

O bate papo passou por questões de poder como essa. Debateu questões de gênero também – o quanto o brasil e o mundo são machistas - mas não aprofundou questões estéticas do filme.

A obra pertence ao autor só até o momento que ele a divide com o público e, arrisco-me a dizer que tão importante quanto a obra pode ser o que ela provoca. Afinal, se ela não fosse provocativa, não geraria nenhum movimento.

Fica a pergunta: de onde estamos, conseguimos realmente nos ver? Nos olhar com afeto? E nos escutar? Conseguimos?
Como contribuímos que relações culturais autoritárias permaneçam no dia a dia?

Quanto nossos preconceitos nos impedem de trocar experiências?
E de nos defender?
(Talvez preconceitos sejam necessários para que possamos fazer questão de nos relacionar com o outro, criando possibilidades que ele nos provoque e nos afete, verdadeiramente)
E de nos adaptarmos?
Escolha a parte em você que quer se adaptar e estará criando uma identidade...

Pergunta: como sabemos se o objetivo da nossa obra foi “cumprido”: quando alguém diz o que idealizamos na sua realização ou quando as pessoas praticam o que quisemos gerar?

Estética de qualidade gerando reflexão.

0 comentários: