9 de jan. de 2010

Apocalipse: não!

Bate papo sobre Pré-Sal – Comentários, por Tânia Villarroel


Um dos desejos de muitos dos caminhantes quando saímos de São Paulo para Santos era discutir, problematizar, debater e, principalmente, descobrir como as questões do “Pré-Sal” estavam repercutindo nas comunidades por onde iríamos passar.

Como poderíamos nos informar melhor sobre as consequências desse recurso no cotidiano das pessoas, quais eram suas expectativas e informações sobre a questão e que soluções coletivas poderíamos gerar desse nosso encontro com a população.

Sonhamos com isso...

Quanto dessa reserva poderia corresponder ao direito assegurado de cada brasileiro?

Mas, parece que quando informações chegam a comunidade, ou seja, nós, as grandes decisões de nosso interesse já foram tomadas.

Isso procede como uma observação, já que eu, pelo menos, ainda não tenho uma solução para a quebra da hierarquia pelo Capitalismo.

Porém, esse bate papo traz a tona mais uma vez a importância de um movimento contrário em busca de um novo sistema que busque energias renováveis e de um resgate cultural respeitando a Natureza e o próprio ser humano.

Afinal, como disse um de nossos palestrantes nos trazendo pura lucidez: “temos que acabar com esse discurso de que temos que salvar o planeta, o que está ameaçado de extinção é a raça humana. O planeta se recupera – pode demorar milhões de anos, mas ele se recupera....” Mas se nem nos mesmos não nos importamos, não é?

Vivemos na era do descartável.
Nosso presente é jogado pela borda...
Nossas relações são mensuradas no prazer do presente.
Não me parece nada mal no sentido de estar no agora, exceto no sentido de impermanência como valor cultural.
Não há nada que permaneça como valor de vínculo mais profundo...
Não há nada que possa sobreviver ao Consumismo...
E nesse sentido é a identidade que está ameaçada.
Identidade do mundo: como partes valorosas que dão vida a um organismo – que um dia poderia respirar sem fronteiras...

Nossos sentimentos dando lugar ao dinheiro.
E quando pensamos em resolver o problema de cada brasileiro nosso com os barris do “Pré-Sal”, será que não estamos criando mais uma fronteira?
Mais um vez estabelecendo uma relação de poder onde nós mandamos mais, então tudo bem...

Pergunta: até quando vamos estabelecer nossas relações pautadas no poder?
Por que parecemos incapazes de que elas se estabeleçam pelo respeito? Pelo amadurecimento do amor? Pela solidariedade?
Utópico para alguns talvez, mas inerente à questão da sobrevivência humana...

A cultura do presente levada a sério a tal ponto, que vivenciamos situações constantes de desrespeito pelo “velho” - toda vez que fazemos uma plástica ou não damos lugar a uma senhora no ônibus porque o cansaço do trabalho nos faz escolher fingir que estamos dormindo.... mas também quando desperdiçamos água porque quando nossos bisnetos vierem não estaremos mais vivos....

Isso é desrespeito próprio.... Será que ninguém enxerga isso?

Se todos agimos assim, perdemos a possibilidade de mensurar até quanto tempo ainda nos resta no planeta Terra... porque somos todos ao mesmo tempo, em qualquer parte alimentando o capitalismo e suas relações insanas e lineares de produção. Tratando o problema como se as soluções fossem infinitas.

Esquecemos que cada cicatriz é uma marca, parte de uma história. Cada ruga, um aprendizado.
E que cada vez que uma criança sorri ou nos faz uma pergunta que não sabemos, ela nos obriga, positivamente, a rever nossos passos – queridos caminhantes do mundo!!!

Se queremos chamar de concessão, partilha – não faz tanta diferença na atual conjuntura mundial.

Se vamos permitir obras de urbanização – canalização de rios, viadutos, entre outros - que as campanhas políticas propõem como solução de progresso, acabando com as possibilidades da Natureza se recuperar para o nosso próprio bem – ainda é uma escolha nossa!

Pré sal, pré água, pré lixo.

Se vamos ou não dividir o último copo d'água do universo ou não...

Se vamos substituir nossas raízes culturais por produtos....
Pessoas que estão no poder – do dinheiro – ainda nos digam quem somos...
Nos ensinem a comprar o vazio da felicidade...

Substituindo nossos sentimentos por xurume...

Ainda é uma escolha nossa ou não?

E a arte ainda é uma possibilidade anestésica ou de resgate cultural e de impermanência e transformação dentro da identidade?



Depois do debate, ainda ganhamos um lindo poema do Flaviano Cardoso:

"Donde Miras"

Eles vieram

Chegaram

De repente

Eram poucos

Diferentes

Mas o que queriam

Era tanto

Que todos ouviram

Com encanto

O que vieram pra dizer?

Falaram sobre a vida

Dos problemas

Das feridas

E nas passadas que eles deram

Dia a dia em cada canto

Já notaram com espanto

Que há tanto pra aprender

Em cada tribo

Em cada vila

Tanta gente nessa trilha

Que ensina com o trabalho

É com o cansaço e a tristeza

Que sua sorte se esvazia

E em cada passo

A cada dia

V a i ju n ta n do algo e s t r a n h o

Eles falam de POESIA!

    Quem são eles?

    Donde eram?

    Pra que raio que vieram?

    A resposta:

    Só depende

    Donde miras?

(escrito no dia 27-12-2009, no bate papo sobre “Pré-sal”)

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