6 de jan. de 2009

ESSE MEU PAÍS! ESSE BRASIL, MEU!

Por Tânia Villarroel


Nesse meu país
- em que São Paulo é só uma vírgula –

Tem muitas Marias sim!
Tem muitos Josés sim!
Não sei se tem Jesus – dizem que Deus é brasileiro-
Mas tem muito menino: de rua!

(Pausa para reflexão)

Tem menino
Passando entre as serragens coloridas das procissões
Tem menino
De praça tentando voltar a acreditar
Em palavras e canções
Em ciranda de roda e dança comunhão
Bem misturado no meio do nosso sincretismo!!!

E bem no meio misturado com o nosso sincretismo
Tem palmeira, poluição, estrada
E tem rio morrendo em silêncio (...)
Entre espumas podres flutuantes!
Eitaaaaaa meu Tietê!!!!

E tem santa preta sim!
Só aqui...
Quase como um segredo: Maria de Jesus era preta, sabia?

Mas minha Nossa Senhora: A-P-A-R-E-C-I-D-A!
Tem “preto de doer”
Que faz muito “serviço de preto” gingado...
Pra eles também tem “dia de branco”, muito sacrificado...
E tem até pra japa barato
Pra vermelho exilado
Pra alemão,
italiano
e português
Todos colonizados: pelo dinheiro!
Tem pra todos: até pra pirata!
(Porque aqui, tudo acaba em samba, não é? Até a música,o DVD e a quarta-feira de cinzas determinados pelos pagãos...)



Todos brasileiros
Que relam na miséria
Econômica: de quem?
Mas não na falta de diversidade
Cultural: de quem?
Todos numa grande feira
Procurando saber quem são?
Procurando saber que moeda usar...
Procurando saber língua falar?
Procurando saber que música dançar...
[E também quem é o culpado de tanta miséria?????]

Desesperados
Pelo urro da América Latina
Que é índia, mulata, mameluca... (e maluca!)
E um pouco bastante espanhola também, não só portuguesa
( que vive num exílio silencioso...)

O meu grito é entre as palavras...
Porque não tem só Maria
Tem Jurema, tem Juçara e tem Mayara...
Tem guajiras, guapas y cholas

(Há quem não goste muito...)
Mas,
Por que não assumir ter Elisabeth, Isabel e uma Dona Maria, louca!
A primeira a tentar convencer outras Marias
Que não tinham valor, mulheres de outra cor...

Escrevo tudo isso porque me parece que o preconceito não é só uma questão do gênero...
Mas do substantivo mal completado
Do adjetivo mal utilizado
Na ausência da diferença
E também das escolhas das crenças

O que tem mais mesmo,
É muita coisa:
Pra falar num só poema...

Saia de baiana
Estátua cigana
E tem também Cauê, Cainan e Yuri
No meio dos dons
D.João, D. Pedro – e dom de viver
Do pouco, com sorriso largo.

Um homem cordial
Pode fazer muito carnaval!

Mas será que pode voltar a acreditar
Na beleza desses mares
Entre florestas sangrentas
Na rudeza dessas calçadas de pedra
Que já muitos passamos para fazer promessas sem se saber cumprir,
Sem certeza de se ser tão brasileiro?

Mas também para enriquecer outras raças
Mais puras que as nossas, não é?
Anauê!
É preciso se conhecer, por isso meus passos tem pressa de saber!!!!

Mas se a pureza está nos corações
Por que insistem em tentar nos convencer que é na cor da pele
No temperamento dos cabelos
No tempero das comidas
Ou na pimenta esquecida – do outro lado da América-
Que vive alguma identidade?

O curupira ainda tá solto
Pra dizer que não se deve estar morto
Quandotemtantacor,músicaeprantonesseporto...

Vamos juntos fazer nossas oferendas
A Iemanjá
Mas não só no Ano Novo...
Mas sim em todo novo menino que nasce
E tem o que comer
o que vestir
o que dançar
em todo novo menino que aprenda
a ler, a escrever
e a pensar
Cantando a América Latina...

E que sabe onde pertence
onde pisa

E que sabe como caminhar
como transitar entre tantas culturas

E que já não mais se pertence,
Se é!
Que se está e se faz em todo momento!
Em construção...





Estamos entre todos
Buscando uma identidade
A verdade dos documentos

E entre papéis e passos, compassos e pandeiros
Assim: tão brasileiros hoje...
Só por um instante...
Só hoje!
Nesse instante!
No mesmo passo...
No mesmo repente...
Na mesma memória!
[Formando uma mesma e só história]

Nesse silêncio gingado de um só riso sofrido
Que só o brasileiro sabe dançar...
Será????

Quem mais aí se sabe brasileiro?
Se reconhece
E logo depois se desconhece?

[Porque a bandeira do Brasil não é verde amarela azul e branca,
É preta, vermelha, branca E amarela!]

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